Dogmatismo, o que é?
Segundo Maurice Cranston, o século XX foi a era do dogma, diferentemente do século XIX que acreditou e do século XVIII que duvidou. Gerou-se assim o dogmatismo (de dogma, que, etimologicamente, quer dizer decreto), essa corrente tão disciplinadamente concentracionária que até tem como princípio e fim aquela tese que admite a possibilidade de, num determinado momento, poderem ser estabelecidas verdades definitivas.
Acontece que a tradição ocidental sempre reagiu, em nome da liberdade, contra os que pensaram poder comandar o sentido da história, por julgarem deter o segredo do bem e do mal e que, com inquisições e juntas de providência literárias, trataram de organizar o index ou o compêndio histórico, esse exacto contrário da tolerância e do relativismo.
É que, segundo Bertrand Russell, o mal apenas reside no temperamento dogmático, e não nas características especiais do dogma adoptado. Por outras palavras, não há política fora de nós mesmos, não há política que não se insira na circunstância de cada homem ser uma guerra civil, feita de barricadas imaginárias, criadas pelos nossos fantasmas e preconceitos e que, muito cientificamente, pensa que os nomes usurpados conseguem capturar a rebeldia das próprias coisas nomeadas, como se um qualquer eu fosse capaz de nomear as circunstâncias e de criar aquelas essências que só existem quando se realizam na pluralidade de muitas subjectivas existências, quando se transformam em factos sociais, assentes na objectividade de uma consciência comum, gerada pela comunhão dos que pensam de forma racional e justa.
Temo sempre as más interpretações que se façam da ideia de doutrina. Do lat. doctrina, derivada de docere, ensinar, donde, aliás, também vem doutor. Começou assim por significar um conjunto coerente de ideias destinadas a ser transmitidas pelo ensino. Evolui, depois, para um conjunto de preceitos, isto é, de regras, princípios, processos e métodos, que servem de fundamento para um sistema destinado a orientar a acção.
Segundo Adérito Sedas Nunes, é um pensamento cientificamente fundamentado, embora não exclusivamente científico, que, inspirando-se num sistema de valores, interpreta-o num determinado contexto histórico e prolonga-o para a acção.
Para Alain, as doutinas são teses opostas, onde cada uma delas procura definir a opositora. Porque são opostas, não são diferentes e as duas em conjunto acabam por ter uma espécie de razão.
Por nós, diremos que as doutrinas opostas quase equivalem à ideia de irmãos-inimigos. Com efeito, as doutrinas que se definem como o contra ou o anti, ao procurarem rebater o adversário pelos fundamentos, acabam por não sair do campo do adversário. Assim aconteceu com o chamado pensamento contra-revolucionário e com o anti-marxismo, para onde, aliás, se mobilizaram muitos antigos revolucionários e muitos anteriores marxistas, de convertidos a arrependidos, que acabaram por utilizar a metodologia das anteriores posições. Muitos anticomunistas mantiveram as bases darwinistas e cientificistas. Do mesmo modo, alguns contra-revolucionários mantiveram a postura positivista.
Acontece que a tradição ocidental sempre reagiu, em nome da liberdade, contra os que pensaram poder comandar o sentido da história, por julgarem deter o segredo do bem e do mal e que, com inquisições e juntas de providência literárias, trataram de organizar o index ou o compêndio histórico, esse exacto contrário da tolerância e do relativismo.
É que, segundo Bertrand Russell, o mal apenas reside no temperamento dogmático, e não nas características especiais do dogma adoptado. Por outras palavras, não há política fora de nós mesmos, não há política que não se insira na circunstância de cada homem ser uma guerra civil, feita de barricadas imaginárias, criadas pelos nossos fantasmas e preconceitos e que, muito cientificamente, pensa que os nomes usurpados conseguem capturar a rebeldia das próprias coisas nomeadas, como se um qualquer eu fosse capaz de nomear as circunstâncias e de criar aquelas essências que só existem quando se realizam na pluralidade de muitas subjectivas existências, quando se transformam em factos sociais, assentes na objectividade de uma consciência comum, gerada pela comunhão dos que pensam de forma racional e justa.
Temo sempre as más interpretações que se façam da ideia de doutrina. Do lat. doctrina, derivada de docere, ensinar, donde, aliás, também vem doutor. Começou assim por significar um conjunto coerente de ideias destinadas a ser transmitidas pelo ensino. Evolui, depois, para um conjunto de preceitos, isto é, de regras, princípios, processos e métodos, que servem de fundamento para um sistema destinado a orientar a acção.
Segundo Adérito Sedas Nunes, é um pensamento cientificamente fundamentado, embora não exclusivamente científico, que, inspirando-se num sistema de valores, interpreta-o num determinado contexto histórico e prolonga-o para a acção.
Para Alain, as doutinas são teses opostas, onde cada uma delas procura definir a opositora. Porque são opostas, não são diferentes e as duas em conjunto acabam por ter uma espécie de razão.
Por nós, diremos que as doutrinas opostas quase equivalem à ideia de irmãos-inimigos. Com efeito, as doutrinas que se definem como o contra ou o anti, ao procurarem rebater o adversário pelos fundamentos, acabam por não sair do campo do adversário. Assim aconteceu com o chamado pensamento contra-revolucionário e com o anti-marxismo, para onde, aliás, se mobilizaram muitos antigos revolucionários e muitos anteriores marxistas, de convertidos a arrependidos, que acabaram por utilizar a metodologia das anteriores posições. Muitos anticomunistas mantiveram as bases darwinistas e cientificistas. Do mesmo modo, alguns contra-revolucionários mantiveram a postura positivista.
<< Home