domingo, outubro 17, 2004

Mania das grandezas, o que é?

Parafraseando Paul Ricoeur, diremos que o mal político é, no seu sentido próprio, a mania das grandezas, a mania do que é grande. Isto é, quanto mais são os pequenitos que nos conformam, maior é o verbalismo fácil da inveja igualitária. Mas as altas expectativas geradas, quando confrontadas com as realizações, acabam por gerar a frustração, pelo que, muito esquizofrenicamente, passamos de bestiais a bestas, dos melhores do mundo a arrastados acompanhantes da cauda do pelotão. E quando o desencanto se apodera de nós, logo surgem brilhantes raciocínios que levam a culpa a morrer solteira, com muitos discursos de justificação e outras tantas desculpas
Muito ironicamente, talvez possamos um dia ler a seguinte nota de imprensa: alguns círculos geralmente bem informados comunicaram-nos que a Senhora Culpa acabou de proclamar que nunca pertenceu ao género feminino, à imagem e semelhança do respectivo concubino, o Senhor Estado, que também nunca se terá integrado naquilo que, até agora, parecia o género contrário. Os dois teúdos e manteúdos, em nome da paridade e da economia comum, que sempre praticaram, depois de assumirem o orgulho e a via do terceiro género, vão requerer solenemente a respectiva união de facto. O acto contratual, totalmente laico, será apadrinhado pela eterna esperança da nossa ministerialidade que assume, sem tragédia, o legado de Carlotinha Lobo d´Avila.