sábado, dezembro 13, 2008

Falta mata-mata para se atingir o ukun-rasik an


Começa a contagem descendente, começa a compreensão do que só é captável pelo espírito, do que só é navegável pela metafísica, por uma hermenêutica mais íntima, profunda e mesmo mítica, como leio no trabalho de um aluno. Porque há Lel Mau-Tar, o Sol, o ente radiante, o juiz último cujos raios chegam a todo o cantinho da Terra, iluminando e desvendando, com minúcia, toda a verdade, e nada deixando oculto ou camuflado. Ai de quem não chegue a esta tradição oral mambae, que não assuma Maromak gia tsu. Só assim pode sentir-se a continuação do novo cancioneiro de Timor:

Rogamos às raízes
para que elas penetrem na terra,
aos botões para que ascendam aos céus,
...
àqueles que nos esconderijos e nos ermos
estarão sempre acompanhados,
a vossa busca
do que visa o progresso
tem de ir avante.

Confesso que me bastam meia dúzia de trabalhos de alunos com estas recolhas sobre a justiça e o político no pré-estadual do timorense, para me sentir um professor que aqui veio aprender, isto é, para me sentir verdadeiramente professor. E também para me reconhecer ineficaz, se ousasse bater à porta dos emissores globalizantes do rolo unidimensional do neocolonialismo, para que eles me ajudarem a lançar a resistência deste aceder ao universal pela diferença. Que lhes interessa que o ga'u vanu mi sirva para manter a harmonia entre a comunidade e a natureza, entre a comunidade e o ancestral no mundo inivisível. Interessa-lhes mais pentear macacos e traduzir em calão constituições que nem o pluralismo da autonomia dos Açores conseguem captar criativamente.