domingo, outubro 17, 2004

Social-liberalismo, o que é?

Sinto-me bastante próximo daqueles que, como Miguel Reale José Guilherme Merquior, se assumem como sociais-liberais, e que se procuram distinguir dos discípulos do neoliberalismo, para quem a justiça social é um termo sem sentido (eaningless). Conforme Reale, o social-liberalismo é o resultado da convergência entre a herança liberal e a socialista, e, por ser o resultado natural de um processo histórico, surge desprovido de preconceitos e antagonismos abstractos, obedecendo às exigências e conjunturas de cada povo rumo à democracia social.

Invocando Benjamin Constant, Alexis de Tocqueville e John Stuart Mill, que admitiram a necessidade de intervenção reguladora do Estado, visando a superação do liberalismo individualista, reconhece a importância de Thomas Hill Green, para quem o verdadeiro liberal é, por natureza, um reformador social, o paladino do humilde explorado e o adversário de todos os altos interesses dominantes e predatórios. Mas não se deixa conduzir pela paixão ideológica, dado que os capitalistas não são os únicos a terem privilégios egoístas e predatórios; o operariado bem organizado, abrangendo muitos milhões de trabalhadores, pode também ser predatório e perigoso ao bem-estar comum.

Na mesma linha de liberalismo social, coloca John Atkinson Hobson e Leonard Hobhouse, os dois Hob, que defenderam a necessidade de unir liberdade e igualdade, e não deixa de reclamar o legado da perspectiva de John Maynard Keynes, defensora do pluralismo e que só injustamente pode ser reduzida à dimensão de mero socialismo de direita, conforme algumas teses de Hayek.